Prefácio
Desde os primeiros séculos da era cristã, a Igreja tem sido moldada e refinada por meio de disputas doutrinárias que visam defender a verdade revelada. Dentre essas controvérsias, nenhuma talvez tenha sido tão decisiva quanto a questão levantada por Pelágio e a resposta contundente de Santo Agostinho. Em Agostinho e a Controvérsia Pelagiana, B. B. Warfield oferece-nos uma análise magistral de todo esse processo histórico e teológico. Neste tratado, Warfield reconstrói meticulosamente a ascensão do pelagianismo, a heresia que enfatizava a capacidade humana de alcançar a salvação pelas próprias forças e o alcance da perfeição divina, e a resposta firme de Agostinho, que declarou Pelágio como “o inimigo da graça de Deus”. A obra destaca como a afirmação da liberdade humana, sem a relevância da graça Deus, ameaçava minar os fundamentos do Cristianismo. Ao longo dos capítulos, Warfield demonstra que a polêmica não se limitava a abstrata reflexão filosófica, mas envolvia questões concretas como o batismo infantil, a transmissão do pecado original e o poder regenerativo da graça. Agostinho defendeu a universalidade do pecado humano utilizando como argumentos incontestáveis a prática do batismo infantil, o ensino apostólico e a própria liturgia, incluindo exorcismos e exsuflação na cerimônia batismal. A clareza expositiva de Warfield destaca-se ao tratar não apenas dos erros pelagianos, mas também da profundidade do pensamento agostiniano, especialmente sua compreensão da liberdade humana, da soberania da graça e da condição decaída da humanidade. Ele ilumina a marcha histórica que culminou na condenação do pelagianismo em concílios locais e ecumênicos, como o de Cartago em 411 e 418 e o Concílio de Éfeso em 431. Warfield também trata dos semipelagianos e sua condenação no II Concílio de Orange. Este volume serve como um recurso valioso tanto para estudiosos quanto para estudantes de teologia, por oferecer um panorama coerente da controvérsia, ao mesmo tempo em que apresenta argumentos espiritualmente edificantes sobre a graça de Cristo. Em uma época em que disputas semelhantes continuam a moldar o pensamento cristão, a leitura desta obra revela-se tanto um convite à reflexão quanto um alicerce para fé firmada na verdade. Espero que este trabalho inspire leitores a meditarem profundamente sobre a necessidade absoluta da graça divina e a importância de se permanecer firmemente enraizados na ortodoxia bíblica.
Por Francisco Tourinho, 06 de agosto de 2025.
Livros que resgatam a boa Teologia Reformada.